Praia dos Fogos

Henri James Kurtz Ω Son Of Zeus Ω Nível 0

Era hora de refrescar um pouco a cabeça, e o que melhor para esfriar a cabeça, do que um passeio beira mar? Ok, talvez um vôo noturno fosse melhor, mas aonde eu iria encontrar algum avião por aqui? Então, minha melhor opção era a praia mesmo. Caminhei em direção a areia, e assim que o solado de meu tênis entrou em contato com a superfície mais macia, senti uma vontade muito grande de tirar o calçado. E foi o que fiz. Puxei ambos os tênis, e coloquei as meias dentro dos mesmos, e afundei meus pés na areia, sentindo aquele solo um pouco frio, e muito macio. Deixei o par de tênis de lado um instante, enquanto dobrava um pouco a barra da calça, até a altura do tornozelo. Feito isso, recolhi o calçado em minha mão direita, e comecei a caminhar em direção ao mar.

O céu estava realmente muito estralado, isso devia ser um sinal de que meu Pai estivesse feliz, afinal, nenhum sinal de tempestade. Nem sequer uma nuvem no céu. A brisa marítima batia em meu corpo, fazendo minhas roupas balançarem, e meu cabelo ficar um tanto bagunçado. Passei a mão, jogando-os para trás, de forma que não ficassem sobre meus olhos, e então, ao ter a visão totalmente desobstruída, vi um vulto na água. Depois de uma piscada, vi que o vulto, na verdade, tratava-se de uma garota. Ela estava com a água nos tornozelos, e permanecia parada, estática. Seus cabelos balançavam de acordo com as lufadas de ar que recebiam, assim como suas roupas. Andei em sua direção, e então vi um par de tênis jogados na areia. "All Star?" Indaguei, e logo presumi que fossem os dela. Sentei-me na areia, ao lado do par de All Star da jovem, e a fitei. Parecia estar desligada do mundo, tanto que não se importava das com o fato de sua roupa estar um pouco molhada. De qualquer forma, aquela era uma cena muito bonita, e resolvi ficar ali, olhando o horizonte, deixando de lado um pouco a presença da moça, e vendo mais além. Além daquela realidade. Literalmente, eu estava viajando em meus pensamentos.

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Finalmente, após alguns minutos, a garota virou-se e veio andando em minha direção. Ou será que vinha na direção de seus tênis. Acho que a segunda é a mais provável, porque pelo sobressalto que ela teve ao me ver, presumo que só me notou quando estava cara a cara comigo. A bela moça quebrou o silêncio com uma brincadeira. - Não se preocupe, não vou roubar seus All Star, tenho meu próprio tênis. - Disse, apotando para o meu par de calçados, largados ao meu lado. - Se bem que seria interessante ver você tentando me alcançar para pegar seus tênis de volta... - E ai veio meu humor. Estava precisando de uma boa piada, e com isso, veio uma leve gargalhada.

A menina sentou-se em minha frente, recolhendo seu All Star. Jogou seus cabelos para o lado, e então o vento mudou a meu favor, jogando o aroma de flores, vindo do cabelo da jovem, em minha direção. - Preciso fazer um comentário, mas não ache estranho... - Fiz uma pausa, fitando-a com uma expressão muito séria. - Seu cabelo tem um cheiro gostoso. - Finalizei, acabando com o suspense, e descontraíndo meu rosto, abrindo novamente um sorriso. Então veio a afirmação, e logo em seguida a pergunta. "Então ela já sabe que sou filho de Zeus?! Ok, boa observadora..." Esperei um instante, baixando meu olhar para minhas mãos, que estavam sobre as pernas, e com os dedos entrelaçados. O anél de bronze brilhou a luz do luar, parecendo que sua superfície fosse feita de algum metal em estado líquido. Voltei então meus olhos para ela, e deixei brotar um sorriso torto nos lábios.

- Meus olhos realmente denunciam meu Pai, né? - Comentei, olhando para a garota, bem fundo em seus olhos. Desviei o olhar, e coloquei meus braços para trás, apoiando meu corpo em cima das mãos. - Cheguei hoje, um pouco mais cedo. Já conheci algumas pessoas. Até fiz minha boa ação do dia, ajudando uma filha de Afrodite a levar suas malas para o Chalé. - Dei de ombros, como se aquilo fosse natural. - Ahh... o problema é que eu não sou lá muito sociável, sabe? Não costumo ter amigos com facilidade. Não digo colegas, conhecidos, mas sim amigos, de verdade. E você, quando chegou aqui? - Era estranho. Estava conversando tão abertamente com alguém que acabara de conhecer, e nem sequer sabia o nome. Epa! Verdade, não sabia o nome dela, e que grosseria a minha, não tinha me apresentado ainda! - Desculpe pela minha indelicadeza... Meu nome é Henri. - E então ela disse o próprio nome. - É um prazer conhecê-la Suzannah, filha de Hécate. - Estendi minha mão direita, que estava cheia de areia. Então de uma risada e completei. - É, acho melhores deixarmos o aperto de mão para outra hora. - Dei mais um sorriso. - Hécate... - Repeti o nome da Deusa. - Esse nome não me é estranho, mas aposto que deve ser uma Deusa bem forte.

A garota calçou os tênis, mas não fez menção de ir embora. Isso me agradou, afinal, isso poderia ser um sinal de que eu não a estava aborrecendo. Dei uma boa olhada para o céu, respirando bem fundo e fechando os olhos logo em seguida. O vento batia em meu rosto. A brisa salgada e gélida do mar noturno. Abri novamente os olhos, e então baixei novamente a cabeça, olhando para os lindos olhos de Suzannah. - Amanhã fará um dia linda. E sinto que não teremos nem sinal de chuva. Papai está satisfeito e feliz. Não sei com o que, só sei que está.

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Era engraçado, estar na companhia de Suzannah, me deixava calmo. - Ecos do além? - Repiti, dando uma risada e fazendo uma careta, zombando o jeito com o qual ela pronunciara estas palavras. - Ok, então fique atenta filha de Hécate. Quando você menos esperar, seu All Star irá sumir! - Falei, fazendo soar como uma ameaça, e depois caindo na gargalhada. Ri do comentário dela sobre minha suposta "cantada", e resolvi retrucar. - Bem, se superar for algo bom, pode ter certeza que foi uma cantada, mas se for algo negativo, tipo uma cantada péssima, ai pode esquecer, pois não foi uma cantada. - Não havia motivos para tentar manter nenhuma aparência fronte a esta garota. Ela era tão natural, tão tranquila, e tão transparente em sua forma de agir, que eu não sentia necessidade de tomar cuidado algum com minhas atitudes. Eu podia ser quem eu realmente era.

Ouvi então o que ela dissera sobre os meus olhos, e logo em seguida sobre seus próprios olhos, e não pude evitar de fitá-los, para procurar o tal brilho diferente que, supostamente, as outras pessoas diziam que eles tinham. - Não vejo o tal brilho diferente... - Fiz uma pausa, pensando um pouco antes de continuar falando. - Mas também digo que não são somente olhos castanhos. - Disse, fazendo então uma pausa. - São lindos olhos castanhos. - Então dei um sorriso, e desviei meu olhar. Deixei cair meu corpo, lentamente, deitando na areia. Coloquei o braço esquerdo para cima, apoiando a cabeça no antebraço. Suzannah então continuou, dando-me as boas vindas, e fazendo uma brincadeira sobre o ocorrido com a filha de Afrodite. Ao comentar sobre o fato de ter sido extremamente cavalheiro, ergui o corpo, ficando sentado e encarando ela, com uma expressão espantada no rosto.

- Bem, temos um problema então... - Balancei a cabeça, e então contei o ocorrido, em que eu, inocentemente, tirara a camiseta para mostrar minhas tatuagens, quando as garotas pediram. - Se isso quer dizer que não terei mais sossego, você vai precisar me ajudar. - Parei, olhei nos olhos da garota, e então completei. - Acho que você vai precisar ser minha guarda-costas! - Claro que aquilo era uma brincadeira. Se bem que não seria má idéia estar sempre na companhia de Suzannah, ainda mais se isso fizesse com que as outras garotas não ficassem a correr atrás de mim. Sabe como é, né? Um homem precisa de seu espaço.

"2 meses... Ela já deve ter passado por alguns bocados por aqui..." Mentalizei, enquanto ouvia-a falar sobre os amigos que fizera no acampamento. Mas então ela mudou totalmente de atitude, fechando-se. Franzi o cenho, imaginando o que poderia ter a deixado assim, tão repentinamente. Talvez o fato de ela realmente não querer estar ali, mas iria comentar sobre isso logo, logo. Ouvi o que ela falou sobre meu nome, e então corei, dando uma risada boba. - Ora, obrigado. - Então ela apertou minha mão, respondendo ao cumprimento, ignorando a areia. E ela estava certa. Estávamos já todos sujos de areia, quem se importaria com mais um pouco.

Ela então me explicou sobre sua Mãe, e os poderes que a mesma tinha. Como eu suspeitara, não era só por ser chamada de Deusa Menor, que isso inferiorizaria Hécate. Ela tinha poderes muito amplos, coisas que eu nunca havia escutado. Para falar a verdade, eu nem sabia ao certo quais eram os meus poderes. Eu poderia conjurar relâmpagos? Criar tempestades? Fazer o ais limpo céu, se tornar em um misto de cinza e negro? Então me veio um devaneio... Eu poderia voar?! Todas essas perguntas eram um tanto intrigantes, mas acho que teria as respostas no tempo certo. E de qualquer forma, eu tinha mais alguns irmão, que pelo que me constava, eram fortes. Talvez eles pudessem me contar sobre isso mais tarde. Mas agora era hora de fazer um comentário que eu realmente havia deixado para depois, propositalmente.

- Sabe, uma coisa sobre você me deixa curioso... - Visualizei Suzannah, analisando cada detalhe, então continuei. - Não tem vontade de ficar nesse lugar? Como assim? Olhe só para isso! - Disse, levantando-me e abrindo os braços, com se estivesse mostrando o lugar. - Temos uma super parede de escalada. Mas não basta só ser uma parede de escalada com espinhos, pedras, e todo tipo de coisa que pode te perfurar. Não! Também cai lava dela! E temos os estábulos, que não tem cavalos normais, e sim os super cavalos voadores. - Coloquei então a mão ao lado da boca, como se estivesse evitando que alguém ao lado ouvisse, mas que na verdade, não passava de uma brincadeira. - E sinceramente, para mim, cavalos alados devem ser o cruzamento de pôneis com galinhas, bem, isso dispensa explicações... - Então abaixei os dois braços, fechei os olhos, e disse, dessa vez em um tom mais baixo. - E temos também esse lindo céu. Uma dádiva dos Deuses. Em que lugar das cidades normais você ia conseguir ver todas essas constelações? - Fiquei um instante deixando os ventos marítimos açoitarem meus cabelos, e a luz do luar banhar meu corpo, e então sentei-me, aproximando-me um pouco mais de Suzannah. - Você realmente deve ter motivos muito bons para não querer estar aqui, porque meu Deus, olhe só para isso. Mas, posso te dar certeza que, se permitir isso a você mesma, esse lugar te oferecerá toda a diversão, aconchego, e satisfação que qualquer outro lugar possa te dar.

Tinha sido um discurso até que bonito. E espero que tenha animado um pouco a garota. - Não sei bem quais as regras por aqui, mas não creio que possamos ficar aqui a noite toda, não é? Quero dizer, não sou do tipo que segue as regras, mas eu não gostaria muito de ver algum sátiro raivoso correndo atrás de mim, com um porrete, pelo simples fato de eu não estar na minha cama. De acordo com as regras, é claro... - Olhei em volta, e então sussurrei. - Será que eles não tem nada no refeitório? É que eu sai correndo de casa, ontem a noite, e não comi nada hoje, o dia todo. - Gargalhei. Realmente, havia me esquecido de fazer as refeições, e meu corpo já estava começando a reclamar disso. Levantei-me, e estendi a mão para a bela moça. - Vamos Suzannah, filha de Hécate, me mostre onde os semideuses guardam a comida por aqui. - E então parei, com a mão esticada, esperando para ajudá-la a se levantar, e para que ela me guiasse para o refeitório.