Campos de Morangos

Nada estava resolvido. Nada. Bianca ainda me odeia, assim como Bethany e Jack, e todo mundo. Respiro fundo. — Sim, estou bem. Não, não resolvi nada. Mal ando me encontrando com as pessoas! Evito todo mundo. — Digo, pensativa. — E todo mundo me evita, também. Acho que sou um caso perdido. Enfim, e você? Como vai? Tenho certezaq que não está bem, só pela sua cara quando cheguei. Qual é o seu problema não-resolvido? — Pergunto, disparando tudo. Não é como se eu tivesse alguma calma, ou qualquer coisa do tipo, ao perguntar. Nem mesmo penso se deveria perguntar. Apenas pergunto.

Só sei que ela está com raiva. Bem devagar, começo a entender que essa raiva é por causa de um garoto. Talvez eu o conheça e não me lembre, mas duvido. Simplesmente balanço a cabeça, em gesto de assentimento, quando ela pergunta se podemos conversar, e sorrio. Tenho uma amiga. De certo modo, isso é algo novo para mim.

Penso em algo para dizer. Por fim, algumas palavras me vem à mente. — Uma vez, me apaixonei por um garoto. Michael, de Caos. Ele até hoje me considera apenas uma amiga. Achei que a única alternativa fosse esquecer. Mas acabei percebendo que não conseguia. Chegou uma hora que o encontrei, e aí eu decidi que não ia mais esconder. Beijei-o. E percebi que ele não correspondia ao que eu sentia. Mas dessa vez, em vez de tentar esquecer, eu fui tentar me distrair. Me manter ocupada. Não que não o ame mais, mas, pelo menos, aprendi a viver com isso. Talvez... Talvez seja o caso de fazer o mesmo. — Digo, e então percebo a presença dele ali, nos Campos. Michael. Meu olhar fica preso por um instante, e depois me forço a virar para Alexis e sorrir. Na verdade, não um sorriso de alegria. Apenas um sorriso vazio.

Não sei o que dizer, exatamente. Então apenas sorrio, dizendo a ele: — Hey, Mike. — E então fico quieta. Não tenho nada a dizer, porém o silêncio começa a ficar pesado depois de um tempo. Por fim, pergunto a primeira coisa que me vem a mente. — Como esteve nesses anos que não te vi?

Não quero soltar nenhuma besteira. Por fim, após mas alguns segundos de silêncio, me forço a dizer algumas palavras. — Não nos vimos nem de vista nos três anos que estive fora daqui. — Talvez aqueles tivessem sido os melhores anos de minha vida, se não fosse pelos anos que eu, Bianca e Peter passamos no Internato, brigando por qualquer coisinha minúscula. Ou, ainda antes disso, quando eu e meu irmão ainda convivíamos juntos. Será que ele está vivo? Gostaria de saber. Mas não havia como. Calígena não deixara rastros. Tiro isso de minha cabeça, apenas observando um certo morango. Ele não tinha nada de especial. Apenas estava longe de Mike. Não me obrigava a olhar para ele. O silêncio me machuca. Mais do que qualquer arma que já vira. De algum modo, eu sei que contaram a ele. Contaram a ele sobre o que fiz e o que fui. E ele não é Alexis. Ele vai ter a reação ruim de sempre. Por fim, resolvo eu mesma tocar no assunto. — Te contaram sobre o que aconteceu, não é? Aquilo que eu fiz, quero dizer.

— Mas não é como se você soubesse o que aconteceu. Eles tinham minha mãe e meu irmão. O que esperava que eu fizesse? — Falo, baixinho. Pelo menos não estou tendo nenhum ataque histérico, como venho tendo de vez em quando. — Você não tem irmãos, não que eu me lembre. — Digo, mais alto. — E eu não tenho mais nenhum. Mas tinha, no tempo, e eu tentei salvá-lo. Você faria o mesmo. Na hora da adrenalina, todos fazem o mesmo. — Dessa vez, tenho que controlar um pouco minha voz. Não sei porque estou com raiva. Mas estou. Uma raiva repentina.

Ninguém confia em mim, e porque logo ele confiaria? Tento procurar a mentira em seus olhos. Mas não acho. E se ele realmente confiasse e acreditasse em mim? Não, é impossível. E então, ele me beija. Demoro para entender a situação, e nem chego a corresponder, porque estou surpresa. Depois, ele se levanta e vai embora. Logo que não o vejo mais, deito de costas e fico olhando para o céu. Não estou me sentindo bem. Isso tudo está sendo demais para mim. Mike é quem eu amo, sim. Eu já aprendera a conviver com isso. E, agora, eu estou confusa de novo. Estou afogando em meus próprios sentimentos. Não aguento mais nada disso, mas sei que causei cada uma dessas coisas. Minha mãe está casada de novo. Meu irmão desapareceu, e talvez esteja morto. Não sei o que Mike pensa de mim. E, para piorar, além de Alexis e, talvez, Mike, eu não tenho amigos no Acampamento. Me levanto, me encaminhando para longe dali. Não quero ficar no lugar onde Mike me beijou, ou vou ficar me lembrando sem parar.