A Floresta

Eu e a garota continuamos a nos beijar, de modo caloroso e prazeroso aos dois. Senti as unhas dela me arranharem mas aquilo não me incomodou. Porém depois de alguns instantes comecei a fazer menção de tirar a camiseta dela, e então parei totalmente. Estava errado. Tudo. Soltei-a e ela me olhou confusa. Aqui não é um bom lugar pra isso. Falei, passando a mão nos lábios e limpando o batom que eu sabia que tinha ali. E eu nem sei seu nome. A gente ta no meio do mato, não é o melhor local para... você sabe. Falei, sorrindo ironicamente. E eu nem te conheço. Insisti. Talvez outro dia, mais para a frente. Ou em outro... lugar. Falei baixo a última parte mas tive certeza de que ela havia ouvido, pelo seu olhar malicioso.

Ela estava sendo misteriosa e me surpreendeu ao sair dali tão facilmente. Antes que se afasta-se muito, corri até ela e segurei sua cintura, puxando-a até mim novamente. Pude ver o desejo e o alivio nos olhos dela e ela avançou contra meus lábios. Porém me afastei, fazendo com ela me olhasse com uma interrogação presente em seus olhos. Você vai me dizer seu nome... A puxei mais para perto, prendendo-a. Ou posso te manter aqui a noite inteira. Falei por fim, com um sorriso irônico. Ela tentou se soltar mas abracei-a novamente e com mais força. Seu olhar tinha certa irritação, mas não me importei. Não estou com sono e nem com pressa de ir para meu chalé. Portanto a menos que a senhorita queira ficar desse jeito a noite toda, é bom que me diga seu nome. Falei, vendo que ela estava indignada.

Sorri com as perguntas dela. A garota era realmente teimosa. Pois bem, seria teimoso também. Podemos apenas ficar aqui, em pé e presos um no outro. Falei, vendo-a indignada. Ela tentou se debater mais uma vez, porém apenas apertei-a mais forte. E ficamos por vários minutos em silêncio, com ela tentando se soltar as vezes, sem sucesso. Eu apenas ficava olhando para a floresta ao nosso redor, tão silenciosa. Por fim cansei de ficar em pé e soltei-a. Quando ela não sentiu meu abraço começou a se afastar, mas logo segurei seu pulso com firmeza. Não me cansei ainda, garota. Fiz com que ela se deitasse e deitei-me a seu lado, ainda segurando o pulso dela. E ficamos ali, apenas observando as estrelas. Sendo que eu apertava mais ainda o pulso dela quando ela tentava se movimentar muito bruscamente. Gosto das estrelas... Sussurrei, sem algum motivo. Ela me olhou e eu virei minha cabeça para ela, ainda deitado. Nossos olhos se encontraram e eu sorri. Pouco a pouco minha mão saiu de seu pulso e ficamos de mãos dadas, observando as estrelas. Seus olhos pareciam reluzir sob o brilho do luar e agora ela tinha uma aparência bem mais... pura. E do que você gosta?

A garota também gostava de estrelas, o que era um bom sinal. Pelo menos tínhamos algo em comum. Ela foi se aproximando aos poucos, sorrateira. Fez com que eu a olhasse e levantou-se levemente, vindo até meus lábios e me beijando novamente. Na verdade foi mais um selinho do que um beijo, mas mesmo assim foi intenso. Depois ela sorriu e voltou a seu lugar, observando as estrelas com tamanho interesse. A confusão cresceu dentro de mim, porém fiz o mais sensato. Soltei a mão dela, ainda olhando para cima. Pode ir, se quiser. Não precisa ficar aqui obrigada, posso descobrir seu nome depois. Falei, olhando profundamente em seus olhos apenas aguardando sua reação.

Sorri ao ouvir a resposta dela. Ela preferiu ficar ali comigo, deitada em folhas secas e no meio de um local repleto de monstros, do que ir para seu chalé e deitar em uma cama confortável. Era um bom sinal. Apertei novamente a mão dela, apenas para que ela me sentisse ali, perto dela, mas sem machucá-la. Estávamos naquele clima, quando ouço uma movimentação estranha e me sento, atento. Algo se aproximou de nós e ambos nos levantamos. Coloquei-me à frente dela, em sinal de proteção. Então um cão infernal surgiu das sombras da floresta. Não era pequeno, na verdade era bem grande. Pude sentir a tensão presente nela, pois ela apertava com força minha mão. Com lentidão, tirei de meu bolso um machado em miniatura. Pude sentir a surpresa e o medo nos olhos dela, provavelmente enquanto pensava que eu a defenderia com um brinquedo. Porém assim que apertei a pequena pedra na ponta do cabo da miniatura, o machado ativou-se e cresceu em minha mão. Era o de cabo preto. O sem veneno. Assim que viu minha arma, o cão avançou sobre mim, fazendo com que eu afastasse-a dali. Segurei meu machado com força, desferindo alguns golpes contra o cão. Um deles atingiu sua pata, fazendo com que ele caísse no chão. Ela soltou um grito desesperado, e virou o rosto. O cão levantou-se e em um momento de minha distração, me jogou contra uma arvore que tinha ali perto. Ele começou a andar até ela, de modo lento e ameaçador. Mostrava seus dentes enormes, como ameaça à ela. Pude vê-la tremer, quando ele preparou-se para ataca-la. Ela virou o rosto e soube que pode sentir o terrível cheiro do hálito do cão, mas antes que ele a mordesse, finquei meu machado em suas costas, fazendo com que ele caísse de costas. E logo só sobrou pó de cão infernal, boa parte dele sobre o cabelo dela, que por sinal estava bem assustada. Peguei meu machado do chão e apertei novamente a pedra, fazendo com que voltasse a parecer um inofensivo brinquedo. Fui até ela, que estava encostada em uma árvore ainda com os olhos cheios de medo e terror. Limpei o pó dourado de seus cabelos negros e sorri ironicamente. Eu disse que iria te proteger. Suspirei e então meus lábios voaram contra os dela, em um beijo de verdade, não apenas um selinho. Porém dessa vez foi mais delicado, com minhas mãos prendendo o rosto delicado dela. Quando nos separamos, arfei, realmente me sentindo exausto devido ao cão infernal. Conhecer você foi algo realmente bom. Falei, beijando-a novamente, porém dessa vez foi apenas um selinho. Sera que posso saber seu nome? Falei, entre um beijo.

As perguntas dela me causaram apenas duas reações. Surpresa e irritação. Apesar do tom brincalhão, eu sabia que ela não estava totalmente brincando, ali tinha um fundo de desconfiança. Poucas coisas são capazes de me deixar irritado assim, de uma hora para outra. E, bem, ser chamado de maníaco e psicopata é uma delas. Soltei-a de meu abraço e de meus lábios, com a indignação crescendo e aparecendo em meu rosto. Você acha mesmo que eu sou um psicopata? Falei, irritado. Limpei o batom da minha boca e limpei também a sujeira em minhas roupas. Ela começou a responder, mas ergui a mão, ainda sem olhar para ela. Não precisa responder. Eu já entendi. Falei, ainda sem olhar para ela comecei a me afastar dali, mas então parei e me voltei para ela. Só pra você saber: só tenho medo do que não conheço e do que me oferece perigo e ainda está vivo. Se agora eu sou psicopata por não ter um ataque de mulherzinha depois de ter matado um monstro, desculpe, mas então sou psicopata. E com um sorriso irônico comecei a andar para longe dali.

Confesso: eu queria que ela tomasse uma atitude. Mas o que havia imaginado não incluía ser derrubado e ter uma garota extremamente sexy sentada em cima de mim. Você me chamou de maníaco, garota! Psicopata! Tem noção do que disse? Falei, tentando me levantar. Porém ela forçou meu corpo contra o chão, me olhando com expressão decidida e impetuosa. A mensagem estava clara: "não vou sair enquanto não me desculpar". Tentei me levantar mais duas vezes, mas foi em vão. Depois a olhei, com indignação. Dá pra você sair de cima de mim? Falei, me irritando. Não to brincando, sai! Gritei, mas ela não saiu, penas cruzou os braços e ficou me encarando.

Ela ainda continuava sentada sobre mim, se inclinando as vezes apenas para me pressionar e impedir que eu saísse dali. Por fim cansei de tentar me levantar e fiquei apenas batucando em meu abdômen. Quando ela disse aquilo, não pude evitar o sorriso. Você é uma mistura equilibrada de loucura e persistência. Falei, um tanto irônico. Ah, agora eu sou seu amor, é? Como posso ser o amor de uma garota que eu nem sei o nome e que me chamou de psicopata? Falei. Aquele modo estava me irritando. Com ela sobre mim, demonstrando quem estava no controle da situação. Então levei minhas mãos para a cintura dela, e quando cheguei exatamente no meio, comecei a fazer-lhe cócegas. Ela começou a rir e tentar me parar, e num breve momento de distração dela, rolei e invertemos de posição. Agora eu estava sobre ela. Sou um pouco esperto. Falei, com um sorriso irônico. Depois disso me levantei e limpei a sujeira em minha roupa. Pra sua informação, ainda estou magoado. Falei, com um biquinho sexy.

Ela me derrubou novamente e dessa vez fiquei bem irritado. Caramba, sai de cima de mim garota! Gritei, ficando estressado. Ela não esperava por isso, portanto foi fácil derrubá-la. Ela estava caída no chão, apoiada nos cotovelos enquanto eu me levantava e pela terceira vez na noite limpava a sujeira em minhas roupas. Se você tentar me derrubar novamente, vou fazer algo bem pior do que te derrubar. Falei, ainda irritado e bravo. Virei-me e sai dali.

Corro atrás de Elizabeth, praguejando qualquer coisa. Droga, Agora, todos saberiam que eu realmente tentara matar duas semideusas, e provavelmente teriam provas suficientes para dizer que sou Caçador. Eu quero gritar com aquela garota que eu chamo de irmã, mas ela está me ajudando, e se eu gritasse, ela perderia a boa vontade, ou não. Então, apenas continuo correndo. Ninguém tenta nos impedir, pois ninguém nos vê. E assim, entramos na floresta cada vez mais, deixando tudo aquilo para trás rumo à uma nova vida, mais difícil.

Os ocorridos do passar dessa semana haviam colocado-me totalmente para baixo, não havia ninguém à recorrer naquele momento de fraqueza. Meu rosto tinha saudade de um sorriso de felicidade, porém aquele sentimento era desconhecido para o meu interior. Durante aqueles tempos preferi manter-me longe de qualquer contato humano, se queria ficar chateada em um lugar, que esse fosse em um lugar solitário. Eu iria à floresta, estava ciente no perigo por lá, mas a dor consumia-me onde eu ficava numa condição que meus pensamentos eram todos embaralhados. Levei um pouco de tempo para chegar as estranhas da floresta e permanecer lá observando o lugar, sozinha.