Chalé 13 - Hades

A world where you and I belong

There's a place out there for us
More than just a prayer or anything we ever dreamed of
So if you feel like giving up 'cause you don't fit in down here
Fear is crashing in
Close your eyes and take my hand, yeah

Emelinne caminhava por um corredor de pedra, seus passos eram lentos e solenes, com os pés vez ou outra arrastando no chão também de pedra - uma pedra negra, diferente das paredes cor de creme -, enquanto trazia um tocha em uma das mãos, feita por ela mesma com pedaços rasgados de suas antigas roupas amarradas na ponta de um pedaço grosso de madeira. Não se lembrava de ter feito-a, mas sabia que fizera, algo dentro de si dizia isso. A tocha, porém, servia apenas para tirá-la da total escuridão mas era incapaz de afastar o frio que a cercava por todos os lados. Estava tão frio, com uma leve brisa gélida e cortanto que parecia lhe atingir até a alma, que Emelinne sentia-se prestes a congelar e endurecer, como se fosse uma escultura de gelo. Caminhou pelo corredor pelo que pareceram horas, vez ou outra pisando em possas d'água fria, tão gelada quanto o vento, que ao ensopar a calça que usava e torná-la de uma tonalidade escura, ela sentia como se estivesse prestes a lhe congelar os ossos, tanto que andar era uma tarefa considerávelmente difícil; apesar de tudo a brava garota não deu a mínima, como se estivesse em uma pequena brisa fresca de outono ao invés do vento que dava a impressão de estar no Pólo Norte, e seguiu adiante, quieta, solene, decidida. Não se recordava o motivo de estar ali enfrentando aquele frio, nem quem a havia levado até aqueles tuneis subterraneos - quando prestou atenção, soube que o eram -, apenas seguiu obedientemente pelo corredor que parecia não ter fim. Quando chegou na primeira curva depois de horas caminhando em linha reta, Emelinne Wher estava ensopada até os joelhos, com os lábios adquirindo uma tonalidade roxa e a pele mais alva do que o comum. A tocha em sua mão parecia mais uma lâmpada, com o fogo aparentando ser tão frio quanto a água que lhe molhava as barras da calça, apenas mostrando-lhe onde estava uma pedra grande demais na qual poderia tropeçar. Ela sentia-se exausta, fria, com os dedos prestes a enegrecer e congelar literalmente, mas não conseguia fugir dali em busca do calor. Não sabia mais o caminho de volta e apesar de ser lógico que a saída se daria se ela atravessasse o caminho de volta, a jovem tinha a impressão de que não resultaria em nada além de uma corrida contra o vento cortante e congelante, que acabaria com ela morrendo encolhida em algum canto, congelada. Não, não fugiria. Ela era uma filha de Hades, deus dos mortos e do mundo inferior, ela via espíritos, mortos e lidava com Cães Infernais, sobreviveu a incêndios e a assassinos que a desejavam morta. Não era uma covarde. Era uma guerreira, sentia-se uma. E como tal, seguiu em frente por curvas que se tornaram mais frequentes com o tempo, passando por várias dela em cerca de meia hora. Sentiu o fria deixá-la à medida em que avançava, seus lábios voltando aos poucos à cor rosada e com os dedos voltando a se mecher novamente. Com o tempo também foram aparecendo tochas nas paredes, iluminando o caminho com mais força do que a tocha que ela levava consigo, logo percebendo que esta havia se apagado e em seu lugar estava apenas um fio de fumaça que não tinha cheiro para ela. Jogou o pedaço de madeira no chão de pedra negra, seguindo de mãos vazias até o fim do corredor, onde via que outra curva existia. Apesar do frio quase mortal, Emelinne Wher tinha uma aparência sublime até àquela situação, com ios cabelo louros caindo em cachos grossos pouco abaixo de seu ombro, os olhos negros fixos no caminho adiante e as mão repousando ao lado do corpo, indo para frente e para trás alternadamente para manter o equilíbrio. E sem ter notado antes, Emelinne viu-se vestida diferentemente do que usava no início, sem a calça jeans, a blusa azul e o casaco de couro negro, mas sim com um vestido de uma cor que ela não conseguia distinguir - seu palpite interno era "verde-creme" apesar de nem saber se essa cor existia - de alças largas e um decote decente, findando-se três dedos acima do joelho. Os cabelos estavam semi-presos do lado esquerdo, com uma presilha de esmeralda envolvendo suavemente seus fios dourados. Ela suspirou ao ver-se, um suuspiro de surpresa e admiração ao mesmo tempo. Só quando chegou a curva e percebeu o que realmente era: uma entrada. A curva dava acesso à um ambiente amplo e quente, sem mobília exceto à um par de cadeiras de carvalho com estofado de veludo que estavam no centro da sala. Ela deu alguns passos, perdendo parcialmente a confiança que possuía antes, enquanto enfrentava o frio do corredor de pedra sem fim, logo hesitando e sentindo-se tremer de receio. Você é brava, menina, no melhor dos sentidos. Uma voz forte e obstinada disse atrás dela, fazendo-a arrepiar-se levemente enquanto virava-se nos calcanhares para ver quem tinha falado. Olhou o homem ali parado, com expressão solene e protetora até, com vestes pretos e olhos penetrantes, que ela sentia que podiam enxergar até o fundo de sua alma. Ficou em silêncio. Não sabe porque está aqui, não é passarinho? - Seu silêncio foi interpretado como um "não" pelo homem. - Está aqui porque preciso que faça algo por mim. Passou por coisas difíceis no corredor e isto só prova que é capaz. Preciso de você, jovem, para proteger alguém, um jovem, um homem na verdade. Chama-se Andrew Bowman - Emelinne viu os olhos negros dele brilharem, como se fosse um tipo estranho de orgulho, ao mesmo tempo em que os olhos dela se arregalaram. - Seu irmão, jovem. Ele corre perigo. Inimigos o querem morto, inimigos poderosos que farão com que isso se realize com toda a certeza. Andrew é forte, bom lutador, ele é capaz de causar grandes danos aos seus oponentes. Como dizem "cairá, mas cairá lutando". Mas o jovem é fraco por dentro, confuso... e tenho planos para ele, planos que só podem ser dele. Já você é bravia e esperta, mas perde uma luta. Só que por dentro, passarinho, você é mais forte que ele, por isso têm de ser você. Fará isso, jovem? Passarinho, protegerá seu irmão? A voz dele soava protetora aos ouvidos dela, seus olhos expressavam carinho de uma forma muito bizarra, mas expressavam. Emelinne queria respondê-lo em voz alta, mas não precisou. Ele a ouvia. Suspeitava disso, mas teve a certeza quando ele sorriu, seus dentes eram brancos, contraste com os cabelos e os olhos negros como ébano, olhos que ela possuía, na mesma intensidade. Ele assentiu com a cabeça. Sabe quem eu sou, passarinho? Ele se aproximou e ela permaneceu quieta e encarando-o, sem medo algum naquele momento. Ele sorriu, com um brilho presente em seus olhos, idêntico ao que possuía quando falara de seu irmão. Emelinne Wher soube naquele momento que ele não lhe faria mal, não poderia. Ela assentiu com a cabeça, uma das últimas coisas que fez antes que ele se aproximasse dela. Meu Bravo Passarinho. Ele se aproximou e beijou sua testa.


Ela acordou naquele instante, ofegante e sentindo ainda o frio do corredor que havia passado em sonho, mas sabia que não estava lá. Olhou em volta, para os irmãos que dormiam serenamente suas camas, todos eles com expressão pacífica no rosto - todos menos Andrew. O irmão não estava no chalé. Emelinne desceu de sua cama, a de cima, ainda de pijama, com os cabelos emaranhados levemente, de uma forma bonita até, e com o short de tecido leve grudando na pele dela. Sentiu um calafrio quando se aproximou da cama do irmão que considerava como se fosse legítimo, não apenas "meio", desarrumada e com o cheiro dele. Sentou-se ali, encostada na cabeceira e abraçando os joelhos, tentando acalmar-se. Seu sonho havia sido tão real, tão possível que ela até sentira o frio do corredor de pedraz creme e com o chão negro. Aninhada na cama do irmão, Emelinne puxou as cobertas dele para si e tentou dormir, mas logo desistiu, com medo de sonhar novamente. Seus olhos estavam assustados, ela tremia e algumas lágrimas escorriam. Só que por dentro, jovem, você é mais forte. As palavras dele ecoaram em sua mente. Ele estava errado. Ela não era forte, não era capaz, não era bravia e muito menos corajosa. Era apenas uma garota, uma simples, pequena e indefesa garota, que queria fugir dos perigos, que queria estar segura, que queria manter as pessoas que amava seguras.Só que por dentro, jovem, você é mais forte. Seria mesmo? Não, não era. Era apenas Emelinne, a filha de Hades assustada, chorona e fraca, que nunca seria capaz de se igualar à Emelinne do sonho. E seria ainda menos capaz de proteger alguém. Só que por dentro, jovem, você é mais forte. Ela tinha ao menos que tentar, não? Andrew... queriam-no morto, como alguma vez a desejaram morta, e aquele destino... ela não suportaria para o irmão, não se pudesse evitar. E se não conseguisse, morreria tentando. Ela queria as pessoa que amava em segurança. Andrew era uma delas. Emelinne se sacrificaria se fosse preciso, mas cumpriria sua promessa, ela não deixaria que o matassem, não seu irmão mais velho. Tinha um laço diferente com ele, sentia isso. Eles eram irmãos, não apenas por Hades, mas sim de alma, de coração. Ela sentia que seu dever era mantê-lo seguro. Só que por dentro, jovem, você é mais forte.

emelinne wher
daughter of hades
save me brother, please...
thanks, baby doll @ EDVTF