Lago

... Aquilo parecia familiar, não lembrava de onde, mas mesmo assim permiti-me ser levado por ela. Só me lembrei quando aquilo acontecera ao sentir a água fria me encharcando. Assim que subi à superfície encontrei uma Alexa sorridente, com um "ops" irônico nos lábios. Alexa! Tem noção do quanto essa água está fria? Vamos, me ajude a sair daqui. Falei, estendendo a mão para ela. Ela não me ajudou, como pensei que faria. Precavida. Eu não vou te jogar aqui dentro, prometo. Vamos, estou congelando. Depois de alguns segundos ela decidiu confiar em mim e segurou minha mão. Nunca acredite nas promessas de um homem dentro d'água. Sussurrei logo antes de puxá-la para o lago. Ri com aquilo, como ri da primeira vez que fiz isso com ela. Mas dessa vez era diferente. Não sei porque, só não era a mesma coisa.

... Assim que Alexa se recuperou do impacto da água, me olhou com ar levemente zangado. Sorri pra ela. Não, apenas omiti minha real intenção. Disse, batendo levemente o dedo indicador na ponta de seu nariz. Apesar de a água estar fria e de meus músculos já estarem dormentes, sair dali era um sacrifício que eu não queria fazer. Teria que me distanciar dela – de novo – e isso era algo que eu não gostava de pensar. Alexa não era mais minha namorada, ela tinha sua própria vida, seus amigos, seu futuro – e algo me dizia que eu não merecia estar nele depois de tudo que fiz à ela. E ainda tinha o bebê. Como eu poderia contar pra ela a verdade, sem magoá-la? Como eu conseguiria lhe dizer que apenas terminei nosso namoro porque minha ex-namorada maluca estava grávida e precisava de mim? E o mais difícil seria contar a ela o quanto a amava. Sabe o que eu penso sobre segredos? Sinceramente, antes os achava desnecessários. Como o que minha mãe guardava sobre eu ser um semideus ou até mesmo sobre Samantha. Mas depois de alguns meses aqui descobri que nem sempre a verdade é a melhor coisa. Às vezes segredos são mesmos necessários, seja para não magoar as pessoas, seja para protegê-las, segredos são importantes. Seu olhar confuso, ´por alguns instantes, pareceu ser por causa da falta de nexo entre o que eu dizia e nossa situação atual. Mas então me lembrei de que não havia apresentado minha jovem irmã à Alexa e ela poderia ser um pouco ignorante sobre esse assunto. Você não conhece Samantha ainda, não é? – Ela fez que não com a cabeça. Respirei fundo. – Eu tenho uma irmã, gêmea, o nome dela é Samantha. Chegou ao Acampamento há alguns meses. Você já a viu. Naquele dia, na frente do meu chalé, você estava com um garoto e eu estava com ela. Resumi bastante e meu tom de voz mudou ao falar do garoto que a acompanhava. Ainda me irritava a presença dele, não sei porque.