Chalé 6 - Atena

Acordei e fui falar com Bethany.

- Desculpa Jack... - Murmurei baixinho, enquanto caminhava até minha mesa - Mas eu fui burra. Devia só ter saído de fininho. Que droga, se eu morrer, ninguém tá bravo comigo o suficiente pra me esquecer completamente... Mas eu não posso morrer, tem a Riley e a Sophie... - Comecei a escrever no papel:

Se eu não voltar, me desculpa Jack. Na verdade, não desculpa não. Deixa todo mundo bravo comigo pra ninguém sentir minha falta. Aí eu morro tranquila, sabendo que ninguém vai sentir minha falta. Não por mim, mas pelo resto do acampamento. Obrigada, se fizer isso. Eu te odeio até na morte, se você não fizer. E eu não quero isso. Eu te acho até legal, na verdade, mas você é muito arrogante. Bianca

Fui para o portão de entrada.

- Esse é o chalé de Atena! - Abri os braços, como que mostrando tudo, e virei pra Jenny, deixando os braços caírem ao lado do corpo. Peguei os morangos que escondi na mochila - Você gostou? Eu amo esse chalé... Tanto quanto amo corujas e livros! - Mostrei minha mesa - Ali estão meus projetos, veja se entende, e aí eu já vou te considerar minha irmã! - Mostrei o projeto da adaga com veneno, o que mata, e pensei em pegar a adaga de verdade depois que ela analizasse. Se ela identificasse a adaga, então...

Ela alterou o projeto, e sabia o que estava fazendo.
- Nossa, eu não tinha percebido que a parte C da adaga estava num formato frágil! Sério, você é um gênio! Se você não for filha de Atena... - Peguei a adaga de verdade - Eu coloquei o projeto em prática semana passada. Junto com o atirador de dardos com veneno com efeito sonífero... Que eu dei pra Betty. - Ela alterou a parte que continha veneno - Poxa, assim o veneno vai ser muito mais letal e vai chegar mais rápido no coração... Você é um gênio! Queria que desse tempo de alterar a adaga, pra usar amanhã na missão... Quer me ajudar? As vezes da tempo!

- Ok, altera aí que eu vou fazendo, colocando em prática. - Começamos.

Li o recado enquanto fazia as alterações finais na adaga. Cliquei na coruja,e coloquei o bracelete. Resolvi ir dormir.
Os pesadelos foram mais vivos.
Seria amanhã que eles se tornariam realidade.

Acordei e fui para os campos de morangos, pensando em uma pergunta.

Me aconcheguei na cama e dormi. Algumas lágrimas rolaram de meus olhos enquanto eu dormia, porque pensava em tudo que acontecera comigo.
Peter, Lis, Betty, Lais...

Acordei e resolvi ir na enfermaria, ver Sophie, Lais, Beth e Riley, e tentar coneversar com Jodelle.
Meu braço doía pra caramba.

Cheguei ali chorando muito. Minha visão estava embaçada. Eu corria. Tive medo. Muito.
Pela primeira vez, me sentia pequena e indefesa. Passei por tantos perigos, e sempre me achei corajosa e fria... Mas como uma pessoa desse tipo não reagiria bem a essa situação?
Quando quase morri, me manti de pé.
Mas porque agora me sentia tão ruim assim?
Meus cabelos caiam sobre meu rosto e o cobria, escondendo as lágrimas. Abraçei as pernas, pensando:

Lis, eu te odeio!
Lis, eu te odeio!
Lis, EU TE ODEIO!

Peguei meu celular e liguei pro Peter.

- Alô? - Ele atendeu
- Peter, é a Bianca...
- Bianca, some da minha vida!
- Não consigo!
- Sim, você consegue! E quer saber como?
- Peter, eu... - Lágrimas silenciosas rolaram pelo meu rosto, e eu não consegui dizer nada
- Eu estou namorando outra! Estou com raiva de você e de seus joguinhos! E estou com raiva pelo que você e Lis me fizeram fazer!
- Peter, eu não tive nada a ver! Eu juro! - Ignorei a parte de ele estar namorando outra
- Não jure nada! Eu sei o que você fez! Nada que você disser vai mudar isso!
- Peter! Por favor! - Me derreti em lágrimas
- Por favor nada! Até nunca mais! Nem tente me ligar de novo!
- Peter... - Mas ele já tinha desligado o telefone.

Peguei o celular e joguei na parede com tudo. Que diferença faz?! Eu posso consertar depois. Mas nem compensa, porque perdi meu único amigo do exterior dessa porcaria!
Porque comigo? Porque eu tenho que sofrer tudo isso?
São perguntas que jamais serão respondidas...

De tanto chorar, esqueci que meu braço estava quebrado. Agora tudo que eu fiz hoje fez meu braço doer insuportavelmente. Pensei em ir para a enfermaria, mas me lembrei de que todo mundo estava lá. Simplesmente me ajeitei no travesseiro e dormi, só pensando no que faria com a Lis amanhã.
Mas o pesadelo voltou, algumas partes mais escuras, as outras mais fortes.
Porque o pesadelo continuava?

Passei alguns dias arrumando meu celular, e já havia me decidido a esquecer Peter.
E de fato esqueci. Ou pelo menos achava que sim.
Recebi uma ligação. Atendi.
- Alô?
- Oi... É o Peter.
- Peter, o que você quer? - Minha voz estava monótona.
- Me desculpar.
- Pelo que?
- Pelo que eu disse.
- O que você quer dizer?
- Que eu te quero de volta.
- ...
- Você me ama?
Pensei muito pra responder. Mas a resposta era óbvia.
- Sim.
- Quer ser minha namorada?
Pensei ainda mais. Pensei no que acontecera. No modo como ele reagira. Em como ele me fizera sentir.
E no que deveria fazer.
- Não!
Desliguei o telefone, e chorei em um canto.
Porque essas coisas só acontecem comigo?

Sophie entrou e perguntou se estava tudo bem comigo. É lógico que não estava! Mas tudo o que eu disse foi:
- Porque eu? - Murmurei entra as lágrimas.

- Peter aconteceu. - Chorei mais ainda. Agora as lágrimas não caiam, jorravam.

Ri entre lágrimas.
- Ele me deu um fora e depois veio se desculpar. O que você faria? - Eu só tinha 12 anos. Ela já tinha 15. Era óbvio que eu pediria conselhos pra ela.

- Eu pretendo me afastar dele. Não sou algo que se pode jogar no lixo e depois pegar de novo. O problema é que eu ainda gosto dele. - Fui limpando minhas lágrimas.