Arena de Combates

Olhei desconfiada para ela. Matá-la não vai fazer mal nenhum, ouvi a voz em minha cabeça, sentindo meu corpo estremecer, vai fazer um favor para os Deuses e o mundo inteiro. Uma risada tomou conta da minha mente, do meu corpo e alma. Era ele, de novo. Ela é tão inútil quanto você. Focalizei o olhar nos meus braceletes, cobrindo totalmente os pulsos e depois olhei para a espada dela, receosa. Depois, agindo o mais normal possível, dei de ombros. Se esse é o único modo que você consegue resolver as coisas, - dei um sorrisinho debochado. - então vamos. Me aproximei um pouco dela, arrumando a posição certa e girando novamente a espada. Ela não negaria nenhum esforço para te matar, então porque não faz o mesmo? Balancei a cabeça com veemência. Me controlando um pouco e tentando bloquear tudo da mente, sibilei para ela: Comece.

Os rastros de sangue que saem do meu braço não me assustam, muito menos a dor e o nervosismo misturado com a excitação transbordando em meu corpo. Quando se luta, treina, duela há três anos ou mais, tudo é tão familiar. Até mesmo a dor, o cheiro do sangue metálico, especialmente se sai do seu próprio corpo. Os cortes faciais mostram que este não é um treino no qual estou acostumada, nem ao menos um treino é, e sim um duelo de vida ou morte. Agora, nesse momento, por mais que seja horrível, não me importo em matá-la. Portanto, o que pude fazer nesse momento é botar toda minha força possível em meus golpes. Eu era uma filha de Apolo e ela uma de Ares. Nos requisitos força, eu estou inferior, muito inferior. Mas isso não me impede de vencer e nunca impedirá. Fiz-lhe um corte profundo na cintura, depois, com muita agilidade, consegui fazer um no rosto, poucos centímetros de seu olho esquerdo. Por um momento, olhei para meus cortes. Era pequenos, mas o sangue dava um aspecto perigoso e sabia que meu rosto era um dos piores, já que senti o sangue passando pelos meus lábios e no pescoço também. A ardência dos cortes era o pior. Bati com força em sua espada, impedindo ela de enfiar a lâmina em meu peito por um triz.

Nem os cortes que conseguia talhar nela eram motivos de comemoração, nem de excitação ou qualquer sentimento do tipo, mas sim, de profunda angústia se entalando e se estufando cada vez mais em meu peito. Sua espada rasgando meu ombro me acordou de um sonho acordado de acreditar que poderia voltar atrás, do transe de que não sairia machucada e de que tudo poderia terminar bem. Eu já estava machucada antes e agora não tinha mais volta para nada. Sangue começou a jorrar de meus lábios. Por um momento, parei qualquer ataque, qualquer demonstrativa e atitude de guarda contra ela, focalizando meus pensamentos, sentimentos e dores em minha boca e meu braço. Levei a mão vazia até meus lábios, sentindo um pequeno vazio entre os dois, percebendo em alguns milésimos depois que foram cortados ao meio. Não era um corte profundo, mas isso não impedia de a dor ser destruidora e de o sangue jorrar à vontade, fazendo-me sentir um enjoo instantâneo. Minhas primeiras palavras e reações sobre os cortes dela foram a surpresa, a dor, mas nunca, a submissão. Olhei furiosa para ela, provavelmente causando um aspecto sombrio, já que parecia que tinha comido um animal cru e não ter me importado em limpar o sangue em meu corpo depois. Ergui a espada o mais rápido que pude, girando para desviar de outro golpe mortal dela, mas agora com o outro braço livre totalmente bambo, sem utilidade, cada esforço de mexer os dedos no mesmo causava-me uma dor terrível. As dores superficiais foram esquecidas, agora minha atenção era nos lábios, braço e obviamente, em Elizabeth. Enfiei a espada em sua coxa esquerda, deixando a lâmina ali por uns sete segundos, depois a retirando bem devagar. Para Elizabeth apreciar mais a dor com mais calma. E quando a lâmina estava no fim, tirei-a dali com toda a força possível. Gostou? – consegui dizer, fazendo sangue sair da minha boca em grandes quantidades, dando-me a sensação de que poderia vomitar a qualquer momento.

O impacto da minha cabeça contra o chão da arena foi terrível, como se cada nervo de meu corpo tivesse pulado e depois voltado para seu devido lugar com uma dor alucinante. Nem tempo de arfar direito eu tive, pois já estava começando a dar pequenos gritos de dor ao sentir meu ombro sendo estraçalhado em partes, para ser específica, em breve ele seria um nada e para piorar, era meu o ombro do meu braço “morto”. Não consigo respondê-la, minha boca está cheia de sangue e o máximo que poderia dizer é balbuciar palavras ilegíveis, os lábios cortados não ajudam em nada. O que me restou foi me levantar, o mais rápido que consegui, obrigando a cada sistema do meu corpo a obedecer a minha vontade, mas a dor era rigorosa e cruel demais. Com muito esforço, vendo que ela me deixou me levantar por uns segundos, seguro e levanto novamente minha espada com o meu braço bom que está ficando endurecido de dor e esforço, e com uma tentativa inútil tento acertá-la. Erro. Mas com uma nova tentativa, consigo fazer um corte em sua mão que segura a espada, por um momento finco bem na carne, depois, como se minha lâmina deslizasse em sua pele, tirei-a dali.

Dei-lhe um chute na barriga com a única força que me resta, meu braço esquerdo não estava mais comigo e outro fraquejava demais, mas meus pés continuavam firmes e fortes. Mas uma dor aguda penetrando a outra camada de dor em meu ombro me faz ter um estalo no corpo todo, fazendo-me gritar e meus olhos lacrimejarem. Então tudo pareceu parar, abri meus olhos e encontrei uma adaga fincada no chão, separando nós duas em uma linha imaginária. Olhei para o lado, encontrando Jack, mas logo em seguida, ele já havia partido em direção à Elizabeth. Não tive tempo de pensar direito, pois ele já estava gritando com ela e a erguendo no ar, segurando-a no pescoço com toda sua força. Ouvi os gritos de dor de Elizabeth. Eu poderia ter ficado feliz em ouvir isto, mas não estava, eu poderia impedir, mas também não impedi, não podia fazer ou querer mais nada agora. Fpi miha clpa. – balbuciei para Jack. Os lábios cortados não me ajudavam a falar e sentia que estava perdendo os sentidos. Não conseguia falar direito nem pensar. Eu noa qera qe fosse toa loge. – tentei falar outra vez, quase caindo no chão, vendo minhas pernas falharem.