Chalé 26 - Calígena

Im Sorry...

As lágrimas ainda escorriam, apesar dos ferimentos terem cicatrizado há dias as feridas em meu coração estavam abertas e ardiam como fogo em brasa sempre que as trazia a tona. Lucas estava tão diferente, tão estranho... eu já não o reconhecia. O irmão que fugiu comigo da casa de papai perdeu-se assim que chegamos à esse maldito lugar. Ele se tornou tudo aquilo que um dia detestamos, tudo aquilo que juramos nunca sermos: como nosso pai. Ele estava agressivo, prepotente e cruel. Antes o modo como ele falava comigo tinha deixado algumas dessas novas características bem à vista, mas só percebi o quanto estava cruel na noite passada. Ele tinha chegado no chalé alterado, com as mãos sujas de sangue e com uma flecha no braço esquerdo, o sangue formando crostas já. Desesperei-me ao ver meu irmão daquele modo, quando na verdade deveria ter fugido e me escondido no chalé daquela garota, a que nos mostrara o acampamento, a filha de Hades. Ela parecia ser uma amiga. Mas eu não fugi, fui tola e fiquei para ajudá-lo. Eu apenas deslizei em uma pergunta... só uma pergunta... Seu soco foi tão forte que pensei que ele tinha trincado alguns dos meus dentes. E quem dera tivesse sido só isso. Ao olhar no espelho de madrugada, quando ele já tinha adormecido, tudo o que um da fora bonito em mim estava feio. Meus braços tinham hematomas derivados os momentos em que ele apertara-os e me balançou, jogando-me contra a parede. Tinha cortes e manchas vermelhas por tudo o corpo, com o rosto sujo de sangue. O gosto metálico deste apenas fazia com que eu chorasse ao senti-lo. Depois de toda a surra e a tortura de meu próprio irmão, resignei-me a permanecer quieta, encolhida, sem chorar, deixando só as lágrimas silenciosas escorrerem, sem atrapalha-lo. Se eu tentasse fugir naquele momento, se eu ao menos fizesse um movimento brusco demais, ele poderia se irritar e me perseguir, e tudo o que eu ganharia seria uma nova surra. Mas depois que ele adormeceu, eu fui até o espelho e vi o que o mostro e que meu irmão havia se transformado tinha feito. Não... Não, não, não... Sussurrei ao ver todas as manchas, os hematomas, os cortes, os ferimentos, o sangue... Chorando caminhei debilmente até onde ele dormia, parecia uma boa pessoa. Era aquele meu irmão, o que dormia. Mas quando acordava, não era mais ele. Em prantos, peguei minha mochila e corri para o mais longe pudesse estar de Lucas.