Área dos Chalés

Desolada. Confusa. Transtornada. Era assim que se sentia Mel com tudo o que acontecia em sua vida infortunada. Apolo a tinha chamado de filha sem nem ao menos aparecer para ela. Que tipo de piada é essa? Que tipo de pai faria isso? Mas, ao mesmo tempo, saber que havia alguém a quem poderia chamar de pai era reconfortante, menos fatal. E se estivesse ficando louca? Os dois estranhos que a encaravam poderiam ser uma ameaça real, caso contrário. Algo a desnorteava: instinto de defesa. O cara à sua frente segurava firmemente um arco e parecia prestes a atacar. Pôde perceber que dele irradiavam um misto de ira e furor, os quais refletiam num tipo de aura, cintilante como ouro. A garota ao seu lado pareceu tentar acalmá-lo e, a princípio, até pareceu funcionar. Porém, ele se aproximou com o arco dourado em mãos. Subitamente, Mel posicionou seus dedos sobre o cabo de sua arma, no cós da calça. Ele deve ter percebido o movimento, pois largou a arma no chão e voltou-se em sua direção novamente. Não sabia como processar aquilo, mas relaxou seus dedos em torno da pistola. Não precisava de mais tensão. Desde que chegou àquele lugar, não pôde respirar como deveria. Estava temendo a quê? Aquele estranho alvor que viu provir do garoto anteriormente, ao invés de apavorá-la – como aconteceria normalmente com qualquer outra pessoa que o presenciasse – na verdade a chamou atenção. Estava temendo algo em maior proporção: seus sentidos pareciam tão apurados a ponto de sentir a presença do que – de quem – tanto teve que fugir. Se isso estava perto ou longe, de fato, não sabia. Os pedidos de Apolo para que seguisse em frente, sem Louis e Kevin, doeriam além de seu cerne, mas valia pena refazer sua vida se os levasse consigo em um coração que ainda bateria dentro de seu peito. A poucos metros atrás dos dois estranhos, viu seus pais ali prostrados, sorrindo de orelha a orelha: era o que precisava para substituir aquela cena sangrenta e infeliz de sua mente. Sorriu de volta e deixou que suas mãos soltassem a pistola. Dirigiu-se aos dois que a encaravam, confusos. A loira, Arya, era filha de Niké e o garoto, Derek, de Apolo. Desculpem-me por isso. Sou Melissa, mas, por favor, me chamem de Mel. – Disse acenando timidamente, envergonhada com toda a situação. Será que pensam que sou louca?  – Sou nova aqui. Perguntaram-na novamente se estava bem. Confirmando com a cabeça, Mel acrescentou: Eu não entendo muito bem o que é tudo isso. Não estou lidando muito bem com esse tipo de mudança, na verdade. – Eles lançaram-na um olhar de compreensão. – Acho que Apolo é meu pai. Então isso nos torna irmãos, Derek?  - Tentou ser amigável. Em seguida, viu a expressão de Arya. A menção do nome de Apolo afetava diretamente a Derek e Mel viu que Arya não só se preocupou com isso, como também pareceu estar agoniada com algo que a assolava antes disso; antes mesmo de Derek e ela irem até onde Mel estava. Algo que, perceptivelmente, privou Arya de descanso.