Punho de Zeus

Depois de deixar a garota no Chalé, suspirei, fui para o meu, jogando-me em minha cama. Certamente, eu estaria cansado, depois daquele longo dia, mas passei horas deitado e não consegui fechar os olhos. Por fim, desisti, e fui andando para qualquer lugar, provavelmente como o intuito de ficar sozinho. Mas é claro que o destino não iria cooperar comigo. Acabei encontrando a pessoa que menos queria ver no momento, assim que cheguei no Punho. Tentei sair dali antes que ela me visse, mas não adiantou nada, pois seus olhos azuis se pregaram em mim. Suspirei, e sentei ali na grama mesmo, cortando algumas gramíneas com um punhal.

Alexis apenas faz um aceno com a cabeça, o que é compreensível. Corto mais algumas gramíneas com o punhal, e faço algumas crescerem de volta aleatoriamente, por pura falta do que fazer. Suspiro, passando a mão pela cabeça. Eu tinha tantas coisas na cabeça, ultimamente. Alexis e Charlotte principalmente, mas mais o mistério do que acontecera com a segunda, já que eu tentava esquecer Alexis. Impossível. Depois, eu ainda pensava na garota que eu falhara em salvar, Suzannah, e várias pessoas que eu perdera o contato nesses últimos anos. Seria bom eu revê-los. Estava prestes a me levantar e sair dali quando penso que estávamos sendo um pouco crianças um com o outro. Quer dizer, não podemos nem ao menos nos falar agora? Eu sei que a situação está extremamente complicada para os dois, mas tento puxar conversa, mesmo sabendo que isso não vai dar certo e vamos acabar de confronto um com o outro. — Não sabia que seu gosto a vinho está ficando refinado. — Murmuro, para que ela ouça, o que é a pior maneira de começar uma conversa, porque é visível que essa situação com bebidas que ela está passando não é nada bom.

Confirmo com a cabeça; era bem esse meu pensamento relacionado ao vinho. Só nunca havia passado pela minha cabeça que Alexis pudesse ter o mesmo pensamento. Então, ela fala de eu estar arrependido de algo. Embora eu saiba precisamente do que ela estava falando, tento levar a conversa no mesmo tom irônico e sarcástico que ela faz. — Depende de quais merdas eu já fiz na minha vida, como ter namorado Sophie, ter tentado atirar com um arco-e-flecha ou comprar cuecas rosas. — Sorrio enigmadamente, de canto.

A Alexis de agora me lembrava a antiga Alexis. Eu quase sentia como se ela fosse pegar minha espada e tentar fugir do Acampamento de novo, sem antes pisar por cima de mim. Então, respiro fundo, e respondo: — Por isso que nunca usei cuecas rosas, e sim azuis. Elas são a cor de Poseidon. — digo, mas sem realmente olhar para ela. Quando ela lembra das estrelas, a noite, fico sério um pouco, pensando naqueles dias. Por que ela havia de lembrar justo agora? Mas apenas assinto e continuo ali, sem realmente sair, como era o previsto. Era gostoso ficar apenas ao vento, olhando o céu se pondo, mesmo com Alexis alguns metros de distância de mim. Controlo o impulso de ir até ela, como antes fazia. Uma garota e um garoto aparecem voando de pégasus, mas os ignoro.

Eu devia a Alexis um momento que ela falasse. Assim que ela se aproximou de mim, já soube que seria esse momento, e deixei que falasse, ouvindo cada palavra. Aquilo me trazia um aperto no peito cada vez que piorava, e me sentia um monstro. Um completo idiota. Por fim, quando ela terminou, eu realmente não deveria falar nada, mas eu precisava. — Me desculpe, Alexis. Sinceramente. Eu poderia pedir quantos perdões e desculpas, gritar aos céus milhões de vezes, mas eu não mereço isso. Da mesma forma que você não merece sofrer mais, nunca mais. Nem por mim, nem por ninguém. — Digo, e fico um momento quieto. — Eu estava cego, angustiado. Com medo de acabar machucado, perder, novamente, uma amiga que tinha. Nunca lhe contei isso, mas eu tinha uma amiga no orfanato. Minha melhor amiga, que morreu por causa de um incêndio que ocorreu por lá, dois anos antes de eu chegar no Acampamento. Eu não queria passar por essa dor novamente. — Falei, relembrando àquele horrível dia que ela conhecia muito bem— Sim, refiro-me a Charlotte como uma amiga, porque você sempre fora a pessoa que eu amara. Mas eu não percebera isso. Não sei como, mas fui um idiota e não percebi toda a alegria que passava com você. Você havia me conquistado desde aquele dia, quando me pegou minha espada e me desafiou a impedi-la de fugir. E me conquistou cada dia mais, com todas as qualidades que tinha. E eu não notava isso. Falhei horrivelmente com você, porque a pior dor é ser magoado pelas pessoas que ama. Acredite, já passei por isso.— Respiro fundo, arrancando um punhado de grama com força. — Mas não consigo passar um dia sequer sem pensar em você. O pior, contudo, é saber que eu sou a causa de todos seu sofrimento. Saber que eu lhe fiz voltar para eles. Que eu lhe fiz sentir como está hoje: angustiada, com ódio e triste. Coisas que eu abominava vê-la em você. Sinto raiva ao vê-la com essas garrafas e cigarros. Raiva de mim mesma. Você me amava, e eu te magoei. Eu lhe amava, mas era egoísta. Pensei em mim mesmo. Você está certa. Sou realmente a pior pessoas do mundo, mas... — Hesito, por um tempo. — Eu realmente te amo muito. E se eu te amo, eu quero seu bem. O melhor. Todos os dias, sempre quis. E eu não posso lhe dar isso. Fizemos uma promessa silenciosa para não magoarmos um ao outro, devido tudo que passamos, mas eu a quebrei. Você me perdoou. Prometi novamente, mas quebrei. E sei que posso quebrar novamente, não importa quanto eu esteja arrependido. Quanto eu lhe ame. E, como não quero te ver assim; como quero que você seja feliz como era antes, só me resta uma coisa. Sei que não estou em posição para fazer pedidos, mas espero que considere. Primeiro, não volte para eles. Eles te fazem mal, sempre. Você não os merece, não importa que agora possa pensar ao contrário. Não quero vê-la pior. E o segundo... — Hesito mais uma vez. Era agora. Penso em voltar atrás. Não apenas em tudo que disse agora, mas desde que a conheci. Fazer tudo de novo. Ou então, nunca chegar ao acampamento. Mas nós, humanos ou semideuses, não somos dotados de poderes assim. E cada erro que cometemos, temos que aprender. Seja de uma maneira boa, ruim ou péssima. É assim que crescemos, é assim que melhoramos para não cometê-los novamente. E embora que tivéssemos de fazer sacrifícios, era para o bem. E meu sacrifício era enorme. Embora eu a amasse, quisesse voltar, eu não poderia. Porque nunca me perdoaria por esses anos que ficamos separados. Por todo o sofrimento que a fiz passar. E, se a quero bem, e não posso fazê-lo... Antes de eu falar a última frase, uma série de imagens de nós dois passou pela minha cabeça. Foi em apenas um segundo, mas o suficiente para fazer aquilo piorar. Eu devia esquecê-las. Portanto, tomo a decisão final. — Meu último pedido, Alexis, é que me esqueça. — Não havia mais nada a ser dito. Seria melhor assim. Ela seria feliz. Me viro de costas e vou caminhando para longe, sentindo lágrimas que há tanto tempo não vinha.